Como monitorar o café com imagens de satélite

satélite café

O uso de imagens de satélite para monitorar áreas de café tem avançado no Brasil, devido aos benefícios que a  ciência vêm mostrando com o uso desta tecnologia.


Dentre os satélites possíveis de serem utilizados, estão os que são disponibilizados de forma gratuita pela missão Sentinel-2A e 2B, da
Agência Espacial Europeia.


As imagens do Sentinel-2 cobrem todo o território brasileiro com alta resolução (10 m por pixel) e permitem acompanhar mudanças na lavoura a cada 5 dias (desde que não haja cobertura de nuvens), identificando rapidamente sinais de estresse hídrico, problemas nutricionais ou variabilidade de vigor.


Veja neste artigo
como usar imagens de satélite no café, incluindo uma visão prática sobre os índices de vegetação e detalhes do sensor MSI (Multispectral Instrument), responsável pela captura das imagens. Boa leitura!


Por que usar satélite para monitorar o café?


O monitoramento de áreas de café com
imagens de satélite   oferece várias vantagens, sendo as principais:


  • custo zero: as imagens do Sentinel-2AB são gratuitas e de acesso público;
  • alta frequência: revisita a cada 5 dias, permitindo acompanhar mudanças quase em tempo real;
  • visão ampla: é possível visualizar talhões inteiros ou propriedades completas em uma única imagem;
  • histórico extenso: análises comparativas ao longo dos anos ajudam a entender padrões e impactos climáticos.


Com essas informações,
produtores de café, consultores e empresas deixam de depender apenas de avaliações pontuais, reduzem o tempo de visitas, que geram custo, e passam a ter uma visão contínua da lavoura em menor tempo e de graça.


As imagens do Sentinel-2AB são geradas a partir do sensor MSI, cujos detalhes você vê abaixo.


O que é o MSI (Multispectral Instrument) do Sentinel-2?


O MSI é o sensor óptico que capta as imagens do Sentinel-2A e 2B. Ele observa a superfície terrestre em 13 bandas espectrais, que vão do visível ao infravermelho de ondas curtas.


Essas bandas capturam diferentes propriedades biofísicas da vegetação, como clorofila, umidade, estrutura foliar e densidade do dossel.

Resolução espacial


O MSI possui 3 resoluções diferentes, dependendo da banda:


  • 10 metros: Red (B4), Green (B3), Blue (B2) e NIR (B8), ideais para análises detalhadas da lavoura;
  • 20 metros: Red Edge (B5, B6, B7), NIR (B8A), SWIR 2 (B12), essenciais para detectar estresse, clorofila e água na planta;
  • 60 metros: São bandas para correção atmosférica, usadas para processamento, como a B1 (costal aerosol), B9 (Water vapor), B10 (Cirrus), B11 (SWIR 1), úteis para monitoramento atmosférico e alterações climáticas.


Resolução temporal


O Sentinel-2A e 2B combinados fornecem imagem nova a cada 5 dias no Brasil. Se uma imagem vier com nuvens, geralmente a próxima está limpa.


Para monitorar o café, um cultivo perene, essa frequência é mais do que suficiente para acompanhar o desenvolvimento ao longo do ciclo de produção, desde o pós-colheita até a pré-colheita.


Quais bandas do MSI influenciam mais na análise do café e por quê?


No uso de imagens do Sentinel-2AB para monitorar o café, algumas bandas espectrais merecem destaque:


1. Banda do Infravermelho Próximo (NIR – B8 / 10m)


É uma das bandas mais importantes para vegetação:


  • plantas saudáveis refletem muito NIR;
  • plantas sob estresse refletem menos;
  • afeta diretamente índices como NDVI, NDRE e GNDVI.

O NIR é excelente para avaliar vigor, atividade fotossintética e biomassa foliar. Café com dossel fechado apresenta valores altos.


2. Bandas Red Edge (B5, B6, B7 – 20m)


São bandas sensíveis à clorofila. Estão na transição entre o vermelho e o infravermelho, e respondem rapidamente a:


  • deficiências nutricionais (especialmente nitrogênio);
  • doenças que afetem a clorofila;
  • estresse hídrico inicial;
  • início da senescência.

O café possui folhas perenes ricas em clorofila. Pequenas alterações nutricionais aparecem primeiro no Red Edge, antes mesmo do NDVI mostrar diferenças.


Essas bandas são cruciais para índices como NDRE e CCCI.


3. Banda Vermelha (Red – B4 / 10m)


É essencial para medir a absorção de luz pela clorofila. A banda vermelha é usada em quase todos os índices tradicionais, especialmente no NDVI. Onde há menos vigor, o vermelho aumenta sua refletância.


4. Bandas SWIR (B11 -- 60 m; B12 – 20m)


Capturam a água presente:


  • no dossel;
  • nas folhas;
  • na estrutura celular.

O estresse hídrico é uma das principais causas de perda produtiva no café.  Bandas SWIR ajudam a identificar:


  • desidratação do dossel;
  • plantas afetadas por seca;
  • regiões com solo exposto;
  • queimadas (NBR).

São fundamentais para índices como NDWI, NDMI e NBR.


5. Banda Verde (B3 – 10m)


Útil para acompanhar vigor e teor de clorofila superficial. É a base de índices como GNDVI, usado para avaliar nutrição nitrogenada no dossel.


Principais índices de vegetação para monitorar o café


Veja os índices mais usados no sistema
Safra do Café e o que cada um deles mostra:



Como interpretar os índices na lavoura de café


  • Valores altos: plantas vigorosas, boa fotossíntese e dossel denso;
  • Quedas ao longo do tempo: possível estresse, seca, pragas ou deficiência;
  • Manchas na imagem: problemas localizados na área;
  • Séries temporais: mostram tendência de recuperação ou queda;

O mais importante é combinar índices diferentes:

NDVI → vigor geral

NDRE → clorofila e nutrientes

NDWI → água

NBR → estresse severo

Assim o produtor vê um diagnóstico mais completo.


Conclusão


O sensor MSI dos satélites Sentinel-2A/B é uma das melhores ferramentas para
monitorar o café no Brasil, oferecendo imagens gratuitas, com alta resolução espacial e temporal.


Suas bandas, especialmente NIR, Red Edge e SWIR, permitem analisar vigor, clorofila e água no dossel com precisão.


Ao utilizar
índices de vegetação e acompanhar séries históricas, o cafeicultor ganha um mapa detalhado da lavoura, identifica problemas cedo e toma decisões mais assertivas.


Se você quer ter esses dados de forma simples, automática e já organizados para o café, experimente o sistema
Safra do Café.


Veja o vídeo abaixo:

Rozymario Bittencourt


Jornalista e analista de dados especializado em tecnologias do agronegócio, com foco em agricultura de precisão, sensoriamento remoto e ciência de dados aplicada à cafeicultura. É criador de Safra do Café.

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