Rozymario Bittencourt
Jornalista e analista de dados especializado em tecnologias do agronegócio, com foco em agricultura de precisão, sensoriamento remoto e ciência de dados aplicada à cafeicultura. É criador de Safra do Café.

Os avanços da cafeicultura moderna compreendem o uso de diversas ferramentas tecnológicas, sendo uma das principais o sensoriamento remoto, que é a técnica de obter informações sobre um objeto sem tocá-lo.
Entender os seus princípios básicos é de grande importância para interpretar imagens de satélite ou drones relacionadas à área de produção de café e assim tomar decisões que contribuem para um manejo mais sustentável.
Veja neste artigo quais são os conceitos fundamentais do sensoriamento remoto, conheça os índices espectrais e como aplicar esse conhecimento à
cafeicultura de precisão.
O sensoriamento remoto é uma forma de obter informações sobre um objeto ou área sem precisar tocá-lo diretamente.
Ele funciona porque cada coisa na superfície da Terra (como água, floresta ou cimento) reflete e emite a luz do Sol de uma maneira única, como uma "impressão digital".
É essa "assinatura" que os equipamentos captam para gerar imagens que podemos entender.
As informações são registradas por sensores especiais, que podem estar em câmeras, aviões ou satélites, como é o caso do sensor
MSI/Sentinel-2AB, usado no
sistema Safra do Café para monitorar lavouras.
Eles "enxergam" diferentes tipos de luz, incluindo algumas que são invisíveis para nossos olhos, como o infravermelho.
Existem dois tipos principais de sensores:
A qualidade e o detalhe das imagens dependem de quatro tipos de resolução:
Uma das aplicações do sensoriamento remoto é no monitoramento da vegetação. Desde a década de 1970, quando foi desenvolvido nos Estados Unidos, ele é usado para estudar florestas e áreas agrícolas. Também é dessa época os primeiros estudos no Brasil para monitorar cafezais, por meio do projeto
CAFESAT.
Para entender a relação do sensoriamento com a vegetação, precisamos saber como a luz do sol interage com uma folha.
Imagine uma folha com suas camadas: uma pele externa (epiderme) e, no seu interior, células cheias de cloroplastos, que são as "fábricas" verdes que usam a luz do sol para a planta crescer por meio de um processo chamado fotossíntese.
Quando a luz atinge uma folha, três fenômenos acontecem:
A quantidade de luz refletida, absorvida ou transmitida depende das características da folha, como seus pigmentos (ex.: clorofila, que dá a cor verde) e a quantidade de água em suas células.
Assinatura espectral: o DNA da vegetação
Cada tipo de vegetação tem um padrão único de reflexão de luz, uma espécie de "assinatura espectral", que é como se fosse um DNA da vegetação. Esse padrão é influenciado pela sua estrutura, saúde e quantidade de água.
Os satélites captam essa assinatura em diferentes tipos de luz, e o comportamento da vegetação em cada uma delas é bem característico:
É por meio da análise desses diferentes padrões de reflexão que é possível identificar o tipo de cultura, monitorar a saúde da plantação, detectar estresse hídrico ou altas temperaturas, e relacionar esses dados com diversos outros fatores, como produtividade, incidência de doenças e pragas.
O que são índices espectrais e como usá-los na cafeicultura
Para transformar os dados captados pelos satélites em informações práticas sobre a vegetação, podemos utilizar os índices espectrais.
Esses índices são cálculos matemáticos que combinam diferentes "cores" ou bandas de luz (principalmente do visível e do infravermelho próximo) para realçar características específicas da planta.
A lógica fundamental é que uma folha saudável absorve fortemente a luz vermelha para a fotossíntese e reflete muito a luz infravermelha próxima devido à sua estrutura celular interna.
Os índices espectrais exploram esse contraste para nos dar insights sobre:
Diversos índices foram desenvolvidos para medir esses parâmetros. Abaixo estão os mais relevantes para a
cultura do café:
A importância da análise contextual no monitoramento do café
Apesar do poder dessas ferramentas, a interpretação correta vai além dos números. É fundamental considerar:
Assim, de forma comparativa, podemos dizer que os índices espectrais funcionam como um "exame de sangue" da lavoura, traduzindo a luz refletida pelo cafezal em diagnósticos precisos sobre sua saúde, nutrição e necessidades hídricas, permitindo que você tome decisões mais assertivas para o manejo e aumento da produtividade.
Acesse o
sistema Safra do Café e passe a monitorar a sua lavoura com imagens de satélite. Por enquanto, o acesso é gratuito e não precisa fazer cadastro. O sistema não faz gestão de dados armazena informações apenas de forma temporária para a realização das análises.